“Segundo o calendário litúrgico, na Quinta-Feira da Ascensão comemora-se a ascensão de Jesus Cristo ao Céu, encerrando um ciclo de quarenta dias após a Páscoa. Mas neste dia celebra-se igualmente o Dia da Espiga ou Quinta-Feira da Espiga. Sobretudo no Sul do País é tradição as pessoas irem para os campos apanhar a espiga de trigo e outras flores silvestres, fazendo ramos simbólicos da fecundidade da terra e da alegria de viver; algumas espigas, geralmente de trigo, simbolizam a abundância, as papoilas, rosas, margaridas e malmequeres a beleza e o ramo de oliveira a paz. Este ramo, em número de combinações variáveis conforme as localidades pendura-se dentro de casa e aí se conserva durante um ano, até ser substituído pela “espiga” do ano seguinte.
Crê-se que este costume tenha as suas raízes num antigo ritual cristão que consistia na bênção dos primeiros frutos, mas as suas características fazem-no adivinhar origens mais remotas, muito provavelmente em antigas tradições pagãs associadas às festas em honra da deusa Flora que ocorriam por esta altura.Salir, uma das mais típicas freguesias rurais do concelho de Loulé, fazda Festa da Espiga um dos principais cartazes turísticos e etnográficos da região algarvia.
Festa Espiga em Salir teve início no dia 23 de Maio de 1968, organizada pela Junta de Freguesia, mais propriamente pelo presidente de então, José Viegas Gregório, figura carismática e um grande impulsionador da sua terra natal. O sucesso da primeira edição, à qual presidiram o Governador Civil de Faro, Romão Duarte e o presidente da Câmara Municipal de Loulé da altura, Eduardo Pinto, ultrapassou todas as expectativas da organização.
Acontecimento regional, recebendo milhares de forasteiros que aqui se deslocam.
Desde então, Salir tem feito do Dia da Espiga um grande acontecimento regional, recebendo milhares de forasteiros que aqui se deslocam para apreciar o artesanato, a gastronomia, o folclore, a etnografia, a poesia e tudo o que há de mais genuíno no interior rural do Algarve. A importância que este evento alcançou como cartaz turístico do interior algarvio foi tal que a Câmara Municipal de Loulé mudou para este dia o seu feriado municipal.
Em Salir o Dia da Espiga, que de certa forma marca o início da época das colheitas, assume uma importância especial, uma vez que se aproveita esta data para levar até ao grande público as manifestações tradicionais mais características desta freguesia rural. Os intervenientes neste espectáculo ímpar no país preparam com certa antecedência os seus carros e durante o desfile vão oferecendo alguns dos produtos que transportam.
O cortejo etnográfico que desfila ao longo da principal rua da vila representa toda a actividade agrícola e artesanal da freguesia, em destilação, apicultura e extracção de cortiça, o varejo do figo, parte que se encontra em vias de extinção, desde as sementeiras, mondas, ceifas, debulhas, fabricação de pão, apanha do medronho e amêndoa e alfarroba, artesanato de linho, lã, palma, esparto, cestaria de verga. Tudo “ao vivo e a cores”.
Para além disso há ainda a exibição de poetas populares declamando os seus poemas feitos de improviso e uma vasta exposição de maquinaria agrícola das diversas marcas existentes no mercado.
À festa não faltam os grupos folclóricos com as suas danças e cantares, nomeadamente o Rancho Folclórico Infantil de Loulé e o Rancho Folclórico As Mondadeiras das Barrosas, a banda filarmónica e o fogo de artifício.
Uma das particularidades da Festa da Espiga é que a população tem ainda a possibilidade de deixar uma mensagem, em forma de poema ou quadra preparada ou apenas de improviso, às entidades governativas presentes, para pedir ou agradecer as obras feitas na terra. Aliás, os executivos da Câmara Municipal de Loulé aproveitam este dia para inaugurar uma estrada, uma escola, uma obra de saneamento básico ou um equipamento de carácter social, contribuindo assim para abrilhantar ainda mais as festividades. Mas quando essas obras não se concretizam, as críticas em tom de brincadeira são lançadas aos responsáveis governativos do município e da região.”